sexta-feira, 24 de outubro de 2008




Ode ao meu pé!

Meu

daqui desse ângulo
parece tão velho
Alguns calos,
poerias do chão
Meu que tanto me deu a mão,
aguentou tanto peso, tanto fardo
de me sustentar calado.
Aguentou meus surtos de dança,
fingindo ser de criança.
Me segurou um pouco manco,
me mantendo de aos prantos.

Meu
Ele tem linhas da vida,
tem traços de castigo, de fadiga,
mas tem um charme curvo e bailarino.
Ele grita quando o impeço de ver o mundo,
quando faço ele parecer alto ou fino.

Meu gosta de ser assim como é:
meio desleichado, sem salto
Meu implica com cada sapato
e canta quando aponta pro céu
Meu bate no chão impaciente
quando fico sentado, descrente.

Meu é o teste pra ver se está frio ou quente
Ele se esforça pondo força só na ponta,
me estimula a alcançar, sem bronca.

Meu se esquiva dos pisões da rua,
se afasta de quem mira uma unha sua.
Meu fareja briga, e chuta
quem não compra minha luta
E me acompanha pelas minhas pegadas
No fundo, sou só eu, meu , e a vontade

Eu e meu companheiro
fazemos acordos
Eu deixo ele descansar,
mas muito parado me formiga teimoso
Meu amigo é ligeiro, tinhoso,
mas sabe bem o que quer.
Viu todas as minhas andanças,
relevou toda farpa sem arredar .

Tem que ser muito chinelo velho
pra caber nesse cansado.
É velho, caprichoso e suado,
mas é só meu e não se contenta com qualquer sola.
Tem que ter muito conforto e luxo
pra esse se torcer pra dar bola.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Diferente



Se você é verde
mas o mundo é azul.
Se você é escuro
em tantos faróis de mentira.
Não se agite, não corra... se atira!
Você é a força nesta masmorra.
Parabéns, você acordou!

Segura a sua cruz
e chuta ela pra Vênus!
Você não é Jesus,
mas tem um veneno
que enche o planeta
de saudável pimenta!
Você esquenta!

Obrigada por nascer estranho,
sou grata por se achar E.T.
O importante é que você se vê
e isso abre uma lente no humano.
É mais que enconder falhas,
prender a consciência em panos.

Seu passo é mais lento,
mas isso faz você ver mais.
Que bom que é capaz
de enxergar além do trotar comum.
Você não é mais um.
Que alegria, irmão!

Não pense em morrer,
não deseje a prisão.
Solta esse seu coração!
Não rói o osso,
joga sal nesse cantar insosso!

Queria estar contigo esta noite,
estou aqui no clã dos loucos.
Não se deixe rouco.
Você pode mais, e voa!
Que lindo te ver assim à toa.
Você é a minha esperança! Dança!

sábado, 14 de junho de 2008

Domingo




Alguém jamais poderia ignorar um poema desses...rs


Esse é o mal das profundas:

são privadas de curtir o raso.

Por exemplo: eu nesse fim de noite,

doida por um bom amasso,

só tenho proposta com conteúdo.


Inteligência não é tudo

nem ser só carne boa sacia.

Mas o fato é que ele não percebe

que além de poeta, sou plebe.

Sou namorada, mas não todo dia.


Às vezes saio, nesse mar da boiada,

desconfio que perdi os sentimentos.

De papos e olhares, já bem treinada,

desperto mil amores por não amar nada.

Não me deslumbro por querer só momentos


Ele chega como fuga da regra,

mas regra fugida não quer rédia.

Acontece, menino acuado, que

eu também não quero arado.

Sou jardim de paixão pela vida.

Quero só fugir da manada.


Seria só questão de se entregar

e se encontrar comigo em algumas paradas.

É não fugir quando o chama o fogo.

Não há medo de parar

numa simples saída da realidade.

Só há temor em eternidade.


Se você não quer meu convite,

não se preocupe, não desespero.

Apenas gosto de expressar o que quero.

Falando em se afogar, eu sigo:

já tem planos para o domingo?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Falta de inspiração...


Vazio


Vazio. Meu coração está vazio.

Queria escrever um poema,

algo que celebrasse o que sinto,

algo que desabafasse o que sofro.

Mas vazio. Vazio é só o que ouço.


Queria gritar, mas não sei se grito.

Gritar por que, para quem?

Não há motivos. Nas minhas palavras

só o vazio. O vazio de todo sentido.


Queria pensar em algo brilhante,

algo que mudasse o mundo.

Ou ao menos minha face indiferente.

Mas vazio é o que comanda minha mente.


Queria agora, mas não sei se rio.

Rio ou desatino num oceano de sorrisos.

Entretanto o que resta do meu brilho?

Só o vazio. O vazio opaco do sem destino.


Então me cubro e imagino um precipício.

Um lugar onde eu possa jogar esse vazio.

Depois mergulhar minha alma num oceano,

um oceano bem cheio de amanhã.


No amanhã de quem tem todo tempo cheio.

Sem o vazio que não mais cobrirá meu peito.

domingo, 2 de março de 2008

Humano

Elementos do ar,
do mar ou da terra.
Elementos do arroz e do feijão,
da paz ou da guerra.
Elementos do fogo,
do terror de ter nascido.
Passageiros do tempo.
Inventores de inimigos.
Passageiros da lástima,
da lembrança de ter deixado.
Escravos do passado,
do futuro embaçado.
Estrangeiros no perigo,
no ardor de um novo mistério.
Esculturas distorcidas do que é belo.
Prisioneiros destemidos, e ridículos.
Advogados da razão.
Sem mão, sem jeito pra coisa.
Alegria melancólica
dos que se valem do não ser.
Tristonhos persistentes em não se ver,
enroscados nas mentes uns dos outros.
Pressa, muita pressa, pressa.
Bichanos perdidos.
Doentes dopados.
Alegres pedintes,
com medo do crucificado.
Pressa, muita pressa.
Vontade de ser, e morrer, e ficar, e não ir, e voltar.
Talento na hora de rir.
E sumir, se perder do horror de pensar.
Sedução da beleza da vida,
entoada com a vontade de roubar.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008


Para não dizerem que nunca posto poesias de amor, aí vai. Em breve, o devaneios vai se tornar livro. Aguardem mais notícias. Beijos!


Adiós Argentina

Adiós Brasil
Estou indo para a Argentina
Vou me afundar em tangos
Vou me perder na boemia
Adiós Brasil
Quero mais que belas praias
Quero alfajor no café do Palerma
Vou ver o Boca, vou sair de cena
Cansei da mesmice
Desta vida pequena
Mas não se engane, companheiro
Vou voar de coração triste
Minha mente amarrada
Com saudades desta vida mesma
Meu sorriso apertado
Da angústia de não estar plena
Espere que já logo volto
Maior, pelo tempo sozinha
E se pensa que fui para ser mais distante
se engana, fui para ser menos minha
Fui para ser livre tranqüila
E voltar com a verdade convicta
de que sou presa por escolha e ousadia
De que sou sua, para sempre,
e não da Argentina

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Mar e céu


Voltei.. acordei agora de noite pensando isso.. depois lendo vi que dialoga com outras poesias minhas.. beijos para os queridos visitantes!


Uma fábrica se construiu sozinha

com ferramentas de nuvens,

suspensa no ar

Havia funcionários de tantos nomes

Um me chamou a atenção

No fim de todo o trabalho

Luvas na mesa, rosto corado

Não havia mais cimento

Mas um som rompia esse homem

Era um tinitar contínuo no chão

Uma melodia fria e peculiar

A noite rasgava os horários

O silêncio dominava o abrigo

Mas esse som bem mais que o infinito

teimava em chamar a loucura

Era um ritmo de estranha tortura

Mas intrigante, supeito de se impor

O dia nas engrenagens acabara

E aquele ruído lembrava as tarefas

Na verdade era uma música sem trégua

Sem chance de sossego

Era um canto de rotina, um tom de medo

Era um verso de persistência

que lembrava a cadência de marchar

Mas aquele homem queria se libertar

Às vezes o ruído crescia,

como um dragão sem tamanho

Às vezes ficava minúsculo e risonho

e se transformava em goteira.

Mas o fato é que era um canto que não se dizimava

Pela vida inteira

Cada novo argumento que o fizesse acabar

Outro o fazia recomeçar

Tantos homens naquela fábrica não ouviam o som,

já tão acostumado.

Mas o operário tinha ouvido refinado

e quem se refina escuta além.

Blém, blém, blém, algo chamando, enquanto repelia

Era uma angústia de nunca acabar o dia

O homem ia além daquele ruído

Os sinos, os pássaros, os pianos

Nada abafava o canto tímido,

mas tão suave e cruel inimigo.

As máquinas, já cansadas,

queriam enfim parar.

Mas o martelo a martelar

O martelo a martelar

Talvez se não houvesse pinos,

não houvesse em que bater

Não, o martelo não batia em nada

O martelo só queria SER

O jogo interrompido no meio

A mesa posta, a moça pronta,

o martelo a martelar.

Tudo estranhamente no lugar

O operário não sabia se era ele

que se punha a trabalhar

Mesmo nos braços de um lindo sonho

o martelo a martelar

Queria ele desencantar esse feitiço musical medonho

e ir além das barreiras do som

O martelo pode ser forte, mas não é bom

Deve aprender a descansar

E cada pino voando na lua

e cada tino zombando do martelar

Fragmentos de ex-martelo na rua

Fim do eterno fixar

Um som de vidros se desfazendo em espuma

e o mundo perdido, e lindo,

sem ter o que martelar.