domingo, 24 de junho de 2007


Em memória de uma época profissional infeliz


Moleca Executiva

Aqui, neste cubículo espremido de cidade,
Vejo minha criatividade
Reduzida a gotículas de poeira.
Essa enganosa luminosidade,
O encosto torto da cadeira.
Minha vida imprensada em grades,
Meu espetáculo estragando na geladeira.
As horas se arrastando inertes e amorais.
E de notícia do mundo,
Só a escravidão dos jornais.
Um fiasco de sentido passando pelo corpo.
O ar preso, quase um sufoco.
E o cheiro de papel frio, congelado.
O arrastar de cada momento suado
O isolado mundo ativo de cada um.
Uma rígida expressão contida,
Sedenta por um pouco de vulgaridade.
É o anseio diário por alguma novidade.
Moleca executiva, perdida,
Num escritório do centro da cidade.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Curtinha

Uma curtinha dessa madrugada


Passar de um estágio
sentada na ponte
Eu bebo um bocado,
me perco no limite
Sinto o bafo quente da certeza
Ouço as sirenes do medo
longe, perdidas,
indefesas contra o meu movimento.
Tento sem sucesso voltar a ser presa
Minha alma voou
Meu pesar é leveza
Gatilhos engatinham,
fazem graça do tormento
Eu sigo a direção do vento
Eu passo,
enquanto todos repassam
Eu vôo,
por cima de todos que avoam
Eu canto,
e todos mortos nos cantos
Menina velha
Sentada na vida
Eu sei onde há brisa
e fujo desses locais.
Meu tiro é o atirar
e o certo não me acerta.
E viva a reta do torto
e viva o toco da meta!

domingo, 3 de junho de 2007

Revolta


Sim, um pouco de revolta não faz mal a ninguém...


Moderna Idade

Viva a modernidade!
Viva a moderna, a falta de idade!
Viva a baderna e a mediocridade!
Passa ônibus, passa trem, pára-raio
Corre homem, pula mulher, pára-brisa
Cadê o sol? Roubaram o céu
Cata olho, procura mulher, cata-vento
De onde saiu tanto movimento?
Venho de dentro desse corredor ártico
Que andam chamando de mundo
Mundo deserto, árido, ácido
Beira a loucura, beira a histeria, Beira o Mar
E a quem se atribui poder julgar?
Modernidade... não há julgamento!
Todo mundo reto, enfileirado no tormento
Pecam tudo, pica juízo, pica a mula
Pecador tem verdade que é só sua
E deve pecar.. porque a verdade é técnica
É lapidada, demarcada, lápide verdade
Que se esconde na ciência do número
Onde vai se esconder o futuro?
Se ninguém parece que fica ou passa
Nosso destino virou uma grande farsa
A justiça fica só na Barsa, na garsa, na desgraça
Tampa a mente, tampa a boca, trampolim
Na roda gigante , a gangorra não tem vez!
Continuemos vivendo no talvez
E viva a modernidade! Não tema, não canse, não corra!
Unidos no canto do viva
Viva a modernidade...
Modernidade, morra!