domingo, 27 de maio de 2007

Gota


Esta poesia foi inspirada por uma goteira no telhado, mas fala principalmente da percepção do limite entre perseverança e teimosia


A Gota

O fim de um temporal
ou o fruto do orvalho.
Prenúncio de um dia quente
rolando num rosto suado.
O cheiro da comida gostosa
escorrendo da boca aflita.
Início de um drama doméstico
brotando insuspeita no telhado
A Gota, o fim, o que faltava.
O transbordar de uma emoção contida
no olhar doente e cansado
Ou a tremida no canto d´olho
da noiva feliz com o noivado.
O presente maldito do pombo
num dia amaldiçoado
A gota, o fim, o que faltava
O limite de um homem cansado
Uma bolha de proteção contra o medo
na ilusão da criança abandonada
A explosão do orgasmo feminino.
O fim do alívio da bexiga.
O líquido derramando do copo.
O cabelo molhado da moça.
A gota, o fim, o que faltava.
O varal, a torneira, a louça.
O limite, a gota d´água.

domingo, 20 de maio de 2007

Horizonte


Quero me reencontrar com este eu-lírico..
Sem Fim

Cada momento da vida
Prossigo por toda sempre dividida
O pior carrasco de mim sou eu mesma
A melhor lembrança que tenho minha
é pensar que não tenho fim

Sentada na praça, eu leio o jornal
De onde pode me atingir o mal?
Tudo de mim comando pelo pensamento
Força maior que rege todas as coisas
Se algo é meu, também é meu o poder de sua cura
Não há insuficiência que para sempre dura
E nem pano que algum dia não enxugue


Não posso proibir que alguém me julgue
Mas o julgamento final eu sempre posso
Porque é meu, só meu, e não nosso
E meus princípios (embora perecíveis) eu sei de cor
Não há barbante que se amarre
Que eu mesma não possa desfazer o nó

Você pode me chamar de prepotente
A crítica é inofensiva, estou contente
Sublime virtude da vida vem de dentro
Não deixo de sucumbir ao sofrimento
Sem mais julgar o que é certo, eu me ajudo
Mas culpar o que sinto já não mais culpo


Não posso permitir que me escape a coragem
Não preciso de falsa camaradagem
Para me levantar, ajoelho no chão
Pode doer, posso me render à confissão
Mas não desisto de seguir viagem

A cabeça está sempre sob o ombro
E algum dia ela ressurge do escombro
E faz raiar o sol na lama do juízo que jazia
E faz nascer a relva esperança aonde tudo morria

O mundo gira apesar de meus conflitos
Em algum momento sempre me reconheço como um amigo
Amor maior eu sinto ainda por mim
Para sempre poder recomeçar
e sentir que em novos inícios não tenho fim

domingo, 13 de maio de 2007

Queridinha


Essa é uma poesia muito importante para mim.


Segura o Vento

Você anda por uma rua
Chega o vento, de repente
Você se abriga, espera ele passar
Agora, tenta segurar o vento
Tenta...
É impossível fazê-lo parar

Você pega a cola do sapateiro
Que tudo cola, tudo pode colar
Agora, tenta colar a sua alma
Que se despedaça sem pedaço
Impossível remendar

Você usa binóculos de vidro
Que prometem fazê-lo enxergar
Mas tenta observar o vácuo
Verá que é cego
Que se engana em muito
Sua máscara é de pele
Sua visão , nunca concêntrica
Sua vida é em muito egocêntrica
Tudo que tem é quebradiço
Seu corpo é quebradiço

Você se sente imortal
Acha que pode controlar a morte
Você acha que é forte
Mas tenta mudar o sentido de um rio
Tenta levantar a água com as mãos
Segura o vento
Desvia a sua direção
Impotência, subjugação

Você se desfaz
Na tentativa de virar fumaça
Mas a fumaça passa
Tenta ir à lua
A lua nunca é de graça
Quer desvendar o mistério da vida
Decifra primeiro a sua mente
Ou pelo menos tenta
Vai até o fundo do mistério
Se sentirá impotente

Acha que nada o atinge
Se sente frio, gelado
Mas chega perto da chama de um vulcão
e será queimado

Abre os braços diante da vida
Fecha os olhos
Não pergunta nada
Senta na areia, no lixo, na mata
Não importa
Eleva a sua alma

Segura seus tormentos
Isso sim você controla
Regula sua cobrança
Segue perdido convicto
Nessa eterna buscança
Que cansa

E sofre
Sofre porque tudo faz parte do desafio
O desafio de ser grande
Ou pequeno, tanto faz
Esse é o desafio:
descansar de só querer mais

Não segura o vento
Deixa ele passar em paz.

sábado, 12 de maio de 2007

Insistência


Esta vai em homenagem à pessoa cuja história me inspirou a poesia. Grande abraço a todos e um ótimo fim de semana! Foto by Cris!


Trilha de Palavras

Pela estrada da perdição
Seguindo os rostos do apelo infiel
Vi um rastro de luz
Era o céu
Senti um fiasco de cor
Pelas frestas da minha cruz
Mas me vi em prisão
Não busquei redenção
Ilusão

Andando por entre avenidas
Becos de mata fechada
Não vi saída, não via nada
A não ser falsas tentativas
Muitos corpos, pouca alma
Me perdia de mim
E sumia da vida
Buraco traiçoeiro
Desespero

Uma serpente enganosa
Me envolvia em escura vontade
Não encontrava a realidade
Buscava me confundir com o mundo
Seguia sem laços, sem futuro,
pela trilha da falsa presença.
Semeada de falsas indiferenças
Escoltada em um pequeno vão
Confissão

Perfurada a pele de espinhos
Apedrejada, ou acolhida
Eu segui por muito perdida
Buscava setas, placas, guarida
Prendia gritos, silêncio abafado
Amaldiçoava o prado
Mas queria vasculhar o mato
Quem sabe dali sairia uma flor
A dor dúbia
Dúvida

Sigo por essa estrada obscura
Vários caminhos, ruas escuras
De uma das escolhas virá o claro
Ninguém vai seguir meu rastro
Meu caminho vai para dentro de mim
Só lá encontrarei o fim
Ou o começo, talvez a bonança
Talvez cortarei essa falsa asa que cansa
Esperança



domingo, 6 de maio de 2007

Para os insones


Tá aí, três coisas que amo num só post: mar, lua e poesia. Um pouco mais de quietude é o que se espera na vida.. Aí vai uma para os insones! Beijosss


Reflexões da Meia-Noite

A mente é um túnel de indagações
Um buraco profundo com orifícios
Onde moram as nossas intervenções
A lei emana do alto, mas isso é fato duvidoso
Se a lei é dos homens, ela vem de baixo
E não cabe a ela ser prepotente
Então de onde brota e verdade?
Vertente de luzes e caminhos paralelos
O fato é apenas uma versão
A certeza se dilui em farelos


A Igreja se diz redentora
Mas não há redenção na culpa
E como surgir paz numa auto- sepultura?
Cova de flagelos e atormentações
A solução dos homens é dizer amor
Mas erram em pensar que duas metades se fundem
Um homem só pode ser por inteiro
Sua metade reside no interior do seu meio
E o meio-ambiente do homem é dentro de si mesmo

O que fica sem resposta é o amanhã
Mas não é amanhã por não termos certeza?
Por que não então vivermos a cada dia nova destreza
ao invés de nos atirarmos do mundo,
afogados em nossas cabeças?

A voz oculta me ensina que devo ser forte
Mas força para mim é conseguir enfrentar o meu oculto
É superar o que em mim me faz obscura
Embora às vezes me perca, confusa
Os homens são otimistas de pouca fé
São aves sem asas que precisam de vento condutor

Iludem-se os falsos diferentes
Mas suas condutas são dignas
Melhor fugir do que viver padronizado
Prefiro a ilusão a ser alienado
Ao menos se tem uma luta


Tanto há o que se ver com os olhos do coração
Isso é tão mais fácil que entender nossa prisão
E a vida é tão rápida, meu amigo, ela acaba
Ela pode se perder em anos de preocupação
No final o que fica é apenas ser
É se saber quem foi
E isso se mede em afetos
E isso se sabe pelas lembranças
Das cenas, dos anos, das danças


Quem dança bem na grande roda
É aquele que não perde o passo