segunda-feira, 2 de março de 2020

À porta

Como, meu bem, queria
que você batesse à porta.
Imagino você à mesa,
sinto me cutucando as costas.
Mas você não está hoje,
nem amanhã.
O tempo é um vácuo sem esse olhar
que teima em manter cerrado.
A floresta é um deserto do seu abraço.
Eu sou você, ainda aqui resistindo.
Eu vejo você daí sorrindo.
Um dia ainda vou abrir essa porta,
os olhos, o sorriso,
e encontrar seu colo.
Meu pai.
Um dia seremos nós dois de novo
Enquanto isso, tenho as lembranças.
Viro e revivo. Choro.
Rodopiando nas memórias,
te encontro me dando a mão,
desde criança.
Nós somos uma festa linda,
preparada para durar toda a vida.
O seu banquete anda esfriando,
mas eu continuo dançando.
Um passo de cada vez.
Nós dois ainda, distantes.
Quem sabe ainda mais juntos.
Talvez.
E eternamente vibrantes.

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