sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Liberdade

Um calorzinho gostoso de subverter
a ordem, a normalidade,
o como era para ser.
Uma vontade transcendental de transceder
e voar... por cima de tanta liturgia.
Um desejo retumbante de ser búfalo
Ser o que há para desfornecer
e virar um próprio sentido, 
sem direção pré-marcada.

Ser uma mistura nada acadêmica de tudo 
ou nada
e sentir um ritmo retumbante no pensar
Maurício, isso é mauriçar
Vitória, vitoriar, Carlos, carlotear

A primeira vez que quis assim desfazer
a obrigação de cumprir qualquer norma.
Hoje mesmo, nesse dia de inverno,
desconstruí a ordem de parecer de vidro.
Eu não quero esse cocar, esse cedro,
essa coroa, esse grunido.
Quero apenas o que estiver perto
de como por dentro me visto

Mais que ter, ser ou parecer,
 garanto que não preciso perecer.
Basta simplesmente respirar,
com esses meus botões,
 que poli recentemente,
basta simplesmente ser gente
para colher a brisa.

Quem sabe sem mais cinza ou mania de graça,
eu possa amar cada milímetro do que se passa, 
sem nada ter que ser heroico.

Nesse vazio mundano, 
um princípio cabalístico do inconformismo profano,
eu vou ousar, crescer a cada dia.
E a morte que não me sorria!
Ou eu fecho a cara para ela. 

Porque aqui ninguém mais é donzela,
tá na hora do povo.
Segura meu sangue latino 
que hoje eu faço um mundo novo!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Poesia amiga

Estava observando o mundo,
quando a poesia, carinhosa, me chamou.
Um pequeno suspiro do sono profundo
do qual minha alma gentilmente despertou.

Em águas calmas, mornas e sedutoras, 
meu sorriso havia afundado a poesia.
Essa companheira antiga, eterna, aflita,
que parecia despertar somente na agonia

Pois bem, com que surpresa vejo
hoje, num dia claro, entre as cobertas.
Os versos surgem num afago sorridente, 
sem me pedir desabafo ou falsas promessas.

As estrofes escorrem com intimidade,
sabem que têm passe livre nessas veias.
Mas dessa vez me visitam tão sem alarde,
como se já não encontrassem no caminho teias.

Existe um calor-essência que vem de dentro,
ele não é barrado, aniquilado ou revertido.
Uma vontade de poesia desde o nascimento,
que vem de outras eras, poetas e destinos.

Uma força que não pode ser quebrada,
persiste intensa, poderosa e sem juízo.
Cresce no peito mesmo maltratada,
jorra apesar de tudo. Até do sorriso.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Um poema que achei aqui nos meus arquivos e ainda não tinha publicado:

Tudo que eu quero nessa vida severina
é não ter pena de me sentir tão menina.
Que sonhos imagino, sem nenhuma turbulência,
o que assusta não é emoção e sim ausência!

Fico inquieta ao pensar que tudo pode ser imperfeito
e não sei por que oscilação é sinal de defeito.
A melhor mãe, boa esposa e famosa profissional
podem não ser ideais e sim gente, afinal.

Que tipo de cobrança tão maléfica
me faz ver meu passado com desgosto
e meu futuro com insegurança intrépida,
enquanto o presente passa como sopro.

Meu refúgio é o agora,
eu sou quem posso ser
do futuro deixo imperfeito mesmo
ao passado não retroceder.

Aceito o que de bom é em ser menina,
sem me prender a isso como sina.
No torto e incorreto, cheio de coração,
farei a arte poética da minha evolução!

terça-feira, 17 de julho de 2012

Gerações

Quando era novo, meu pai me alertou:
 "Filho, tome cuidado,
 Esse tal de casamento é castigo,
 veja o que fez comigo!
 É melhor ficar de coração fechado
 para não ser assim maltratado".

 Bem, pai, não sei o que você diria
 se tivesse conhecido a Maria...
Agora já estou compromissado,
 e bem longe de me sentir culpado!

 Monogamia não é monotonia se existe sintonia

 No começo, fiquei meio cabreiro.
 Era filho, rotina, dinheiro...
 Mas o jeito que Maria acordando sorria
 me tirava o desejo de negar a agonia.

 O risco de ficar entediado.. que bobeira!
 Isso foi mal contado...
 Todo dia é um carrossel de sentimento,
 seja ele alegria, cansaço ou lamento.
 Sintonia não é monotonia, por isso a monogamia

 Sim, meu pai, eu reconheço,
 a Maria até que tem defeito.
 Mas também, ô velho, quem não teria?
 Isso é argumento da hipocrisia...
 Quando ela vem e me aconchega no peito,
 eu sei que estou vivendo direito.
 E mais tarde, quando me sentir maltratado,
 pelo menos saberei como foi ter amado.

 Noto, magia, minha, sono,
 Monogamia é monotonia, mas existe sintonia
 Tonia, Monica, Tina, Sabrina..
 nenhuma de vocês se compara à Maria!

terça-feira, 6 de março de 2012

No escritório


Um tédio que corre pelas veias
total falta de inspiração
filme velho sem dilema, sem roteiro
 uma transa de hora marcada,
mas sem tesão...

Entre quatro paredes, a monotonia
eu diante de um teclado frio feito pedra
e lá fora a vida a passar, o povo em folia,
enquanto vejo lisura, sonho com a guerra

Devia ter mais vontade, menos juízo,
mas até  quando grito eu fico muda.
E o tempo urge, o pé formiga,
Dentro de mim não mais que fuga

Esse prédio enlatado, um cheiro de poeira,
um trabalho enfadado, uma ratoeira.
Essa poeta enjaulada em sua mesmice
pede por mais cena e menos reprise

Só quando o dia acaba e chega no lar,
essa jovem velha se põe a respirar
e nos olhos coloridos, a vida inteira,
de quem odeia ter que trabalhar

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O que é o que é...


A vida é o que acontece
enquanto pensamos nela.
Cegos, em frente à janela,
sem desbravar com garras esse mundo,
nos dado de presente nos olhos,
no coração da vista.

A vida é o toque, o abraço, a despedida.
É o vazio na sutileza de um gesto,
é um bolero imodesto
tocando na vitrola da vizinha.
É a campainha anunciando uma visita,
é o fundo do copo da birita.
Sou e você, nesse instante de agora.
Essa folha em branco, que também me olha.

É talvez um sopro de uma respiração qualquer
pulsando num seio de mulher.
Uma imagem desbotada de uma dança
que nunca abandonou aquela esperança
de sentir tão mais essa mesma vida.

E quem sabe eu, aqui distraída,
não seja somente a maior resposta,
que procurei à toa, em tão insensata briga?
Quem sabe a noite, tão misteriosa,
não esconda a mais luminosa rosa?

Sem sol, sem letras ou concreto,
talvez num rosto plácido de um boneco,
as conclusões sejam as mesmas.
Resposta alguma pois não há definição,
vitória nenhuma pois não há disputa.
É uma falta de cansaço... Acabou a luta.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Para ele...


Tufão, nuvens, um redemoinho de poeira,
no meio da confusão, meio sem eira,
vejo um anelzinho de coco

Parece singela bijuteria do norte
mas é o maior símbolo da minha sorte.
De longe é só um pedaçinho de madeira
e é a verdade mais verdadeira,
minha lembrança de mundo novo

Um anelzinho marrom topeira
que reflete o rosto dele
é meu tesouro mais que profundo
desenhado nesse dedo raso
do amor mais forte do mundo

é só olhar que me lembro
não existe dia, semana ou setembro
esse anel não quebra, é real,
é quase uma auréola de plano astral.

É meu e dele, algo só nosso,
me prova a cada instante que posso
É muito para caber em palavras
é tanto que não dá nem na alma,
mas dá força para viver tudo,
sentir tudo,
Seguir adiante

Com esse anelzinho sou mais confiante
e vôo, rumo ao que Deus reservou,
um canto de madeira de amor,
não deixa eu esquecer da brisa:
meu elo de paixão com a vida