sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Palavras



O mundo te diz:
" mais".
Você discorda.
Diz que é demais.
Só que o mais é um sinal
E o mundo é americanizado.
"See now!"
Não demore.
" more!".

Essa vida cansa,
Não há tempo de rede.
"Re-!"
Tem horas que enjoa.
Digo: não há tempo!
Eles dizem: "tem pô!"

E eu canso.
Maldito vocabulário!
Procuro um time
Mas não há time.

Eu vou, mas tenho sono.
"Só, no!"

Tem muita coisa,
É coisa demais.
E continuo só ouvindo:
" mais!"

Se vou pro sul,
Algo me balança.
Mas escuto:
"Bá, lança!"

Se vou pro norte
tirar algo que me aveche.
"Ave, enche!"

Tudo é sempre na ação.
Nunca numa nice,
Tudo é pequenice!
Chega de demais!

Não sou de safadeza,
Mas quero corpo mole.
E vou alcançar, chega de ao cansar
que meu corpo já cansa.

Depois desta fadiga toda,
É boa hora pro bora da bonança.



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009



Abolição

Não quero renunciar à vida
para me entregar à poesia.
Nem tampouco me oferecer em sacrifício
para enaltecer a história humana.
Quero ser brisa solta a vagar no dia.
Quero ser fraca, cansada e mundana.
Cheia de vontade de errar o ofício
e vazia de crítica pelo profano.

Quero que nada saia como os planos,
desejo nunca entender o caminho.
Prefiro ser burra a ser hipócrita.
Faço piruetas de salto, enalteço a chacota.

Não me importo em largar a rosa
e abraçar o espinho.
Eu sou um caminho torto, duma via florida.
Renego o cômodo e cambaleio formosa.

Escolho mesmo não entender nada,
não saber se fiz mal ou correto.
Deliberadamente rezo pelo azar
e torço para o meu andar não ser reto.

Quero errar tanto que esgotada peça arrego.
E mesmo assim não obtenha, e siga.
Desejo tudo que perturbe o sossego,
dou parabéns a tudo de bom que renego.

Não me irrito com as críticas,
não pergunto a opinião alheia.
Desta vida toda, só quero ser cheia.
Autêntica, espontânea, se assim o quiser.
Quero ser hoje homem, amanhã mulher.
E não ter definição em cifras e nomes.
Quero só desse mundo ter fome.
Seguir perdida, com a impressão errada.
Nunca desejar desejar nada.

Se o tempo parar, e a escada cair,
eu quero apenas sentir
e não ter medo do podre.
Quero ser o quanto mais pobre
e o quanto mais louco
essas asas mancas de pombo
me deixarem ser.

E, um dia, quando a morte bater na minha casa,
eu dou um chute na cara dela.
Rio debochada, cuspo da janela.
E vou carregada pelos pés, como
uma foliã exagerada expulsa da festa.

Mas o meu público jamais esquecerá a algazarra.
E, no céu, continuarei bagunçando as arestas.