domingo, 24 de junho de 2007


Em memória de uma época profissional infeliz


Moleca Executiva

Aqui, neste cubículo espremido de cidade,
Vejo minha criatividade
Reduzida a gotículas de poeira.
Essa enganosa luminosidade,
O encosto torto da cadeira.
Minha vida imprensada em grades,
Meu espetáculo estragando na geladeira.
As horas se arrastando inertes e amorais.
E de notícia do mundo,
Só a escravidão dos jornais.
Um fiasco de sentido passando pelo corpo.
O ar preso, quase um sufoco.
E o cheiro de papel frio, congelado.
O arrastar de cada momento suado
O isolado mundo ativo de cada um.
Uma rígida expressão contida,
Sedenta por um pouco de vulgaridade.
É o anseio diário por alguma novidade.
Moleca executiva, perdida,
Num escritório do centro da cidade.

3 comentários:

Lucas disse...

E eu to pra te mandar o negocio pelo correio e sempre esqueço...
A proposito, sempre boas poesias aqui!

Abç

Galega disse...

Ai Cris, vc conhece o judiciário? é todo um grande escritorio no centro da cidade!
Tudo é igual todos os dias. Um horror...

Sérgio disse...

Fizeste-me lembrar com estes versos, aquela "pequena" conversa que tivemos numa certa rua de Veneza:
A creatividade limitada às circunstâncias, a imaginação restringida pelas "formulas mecânicas" na arte de escrever num jornal... A tentativa de alguém se diferênciar ao convêncional.
Adorei teus versos e este espaço, onde dás largas ao teu "eu" :D

bjinhos:

Sérgio Henriques