segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Portas

Se um dia alguém te perguntar sobre mim,
explica sorrindo que não nasci assim.
Fui fruto mordido, só por fora
e conservo ainda caroço oco (e louco)
onde guardo o infinito da minha história.

No traço do meu gingado,
tem um homem mal-sonhado.
Eu idealizo, e insisto,
mas no fundo não sou as convenções que visto.

Eu não cobro da multidão que me tire essa ciência
porque a multidão - em festa ou em luto - não pensa.
É um arquipélago completamente dividido
no qual o dormir de cada um é um rito,
uma passagem para um outro isolamento.

Eu me movimento.
E na cadência dos corpos que se fundem ao meu,
eu quero descontrolar o que é meu e teu.
Quero um amar livre para que se enterre o pecado.
Na lei da minha terra,
só os falsos fazem algo errado.

E ver, sentir, se deixar levar,
sem se prender à memória
porque tudo é construção irrisória.
Tudo é caretice profana
quando se espera mais da mente humana.

Sem as noções mesquinhas de espaço e tempo,
mas em êxtase por cada detalhe, de todo momento.

Se alguém te perguntar sobre mim,
responda que não menti.
Mas pensei tempo demais sobre o pensar terceiro
e perdi meus dias com o viver alheio.

Até hoje.
Vivi uma busca,
mas encontrei meu centro.
Vejo agora o raiar solitário do amanhecer para dentro.

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